A era do lead

Passe uma mensagem em 140 caracteres. Detone um serviço que deixou a desejar em seis linhas. No século XXI, não há mais tempo para discursos de seis horas. Fidel Castro que me desculpe, mas estamos vivendo a aurora de uma nova época: a Era do Lead.

Em linguagem jornalística, o lead sintetiza o que há de mais relevante em uma matéria:
  • O que aconteceu?
  • Quando aconteceu?
  • Onde aconteceu?
  • Por que aconteceu?
  • Quem protagonizou o fato?
Essa síntese geralmente é colocada logo ao início da matéria, em sua abertura, e tem por função fornecer uma prévia que permita ao leitor saber o essencial e, a partir daí, decidir se quer ou não aprofundar-se no tema, lendo o restante do texto. Na Era do Lead, isso está acontecendo com todas as formas de comunicação: precisamos ir direto ao ponto, com dados e fatos relevantes que informem quem está nos ouvindo, porém respeitar sua liberdade de decidir se quer ou não continuar aquele assunto.

Neste ponto, empresas e pessoas físicas esbarram em dois paradigmas de comportamento que parecem quase intransponíveis e que estão na base das reações contrárias a este novo formato de comunicação. O primeiro é a verborragia típica das culturas latinas, que tem em Rui Barbosa um ancestral e em Fidel Castro o seu melhor ícone. Trata-se de um velho mecanismo para igualar o que é importante com o que é irrelevante, despistando a atenção de quem ouve. De iludir pela quantidade. E de inibir a participação do outro.

Ir direto ao ponto exige, portanto, a maturidade de assumir publicamente posições e juízos de valor: eu, emissor da mensagem, hierarquizo os dados de uma determinada forma porque considero-os mais importantes por causa dos fatores A, B e C. Exige conhecimento de causa, para realizar a seleção dos dados que devem ser comunicados prioritariamente. Exige, por fim, a responsabilidade de assumir que toda comunicação é subjetiva e passa por um modelo mental. Parece óbvio, mas na prática é extremamente difícil – tanto para empresas, como para as pessoas.

Subjacente à verborragia está outro paradigma: o autoritarismo. Ao falar muito, não deixamos espaço para o outro se manifestar. Ocupamos toda a página, todo o tempo de debates, restringindo ou cerceando a troca de idéias. Defendemos uma tese com paixão, porém não permitimos que ela seja questionada. Todas as negociações para um novo acordo sobre mudanças climáticas, liderado pela ONU e que deve culminar agora no final do ano na CoP15, tem sido um exemplo prático do paradigma do autoritarismo: delegações de negociadores defendem com paixão suas teses, ocupam espaço de diálogo e geram documentos extensíssimos cuja leitura toma um tempo absurdo, limita o tempo de debate e acaba levando à postergação das decisões.

Há muitas críticas bastante pertinentes ao ritmo alucinante que estamos vivendo. Mas se tudo tem dois lados, este é o lado positivo da sociedade on-line real time: a desconstrução das atuais formas de dominação favorecidas pelo formato da comunicação tradicional. Ou, em menos de 140 caracteres: a_era_do_lead_favorece_a_transparência_e_o_diálogo_ gerando_ uma_comunicação_realmente_democrática.