Sustentabilidade leva a uma nova linguagem na comunicação

Converse com consultores, empresários, pesquisadores e a explicação é invariavelmente a mesma: não há respostas prontas para os desafios que uma gestão que se propõe ser sustentável enfrentará. Aliás, muitos desses desafios sequer são conhecidos hoje. Por isso, nunca as empresas precisaram tanto de capital intelectual. Nesse contexto, as áreas de DHO, RH, Comunicação Corporativa ou Assuntos Institucionais tem um papel estratégico, já que a comunicação interna pode contribuir (ou não) para estimular os modelos mentais necessários nesse processo.

Modelos mentais são como uma linha de produção de uma indústria: entra a matéria prima (informação, emoção, experiências) e elas são moldadas de acordo com um projeto (baseado na cultura em que vivemos, na nossa história de vida, na nossa educação). Se o molde é quadrado, ele nunca gerará uma peça redonda. Mas e se o mundo exigir peças redondas?

Pois é exatamente isso o que está acontecendo agora. Porque a sustentabilidade pressupõe um olhar integrado a inúmeras variáveis dentro e fora do processo produtivo. Itens que antes eram simplesmente classificados como externalidades agora precisam ser computados, controlados, reduzidos. Ocorre que as pessoas foram educadas para pensar dentro de suas especialidades. E as empresas estão organizadas em departamentos que nem sempre se falam.

A comunicação interna, portanto, deve estimular a visão sistêmica. Para isso, ela precisa ir além do paradigma que a criou, do jornalismo empresarial como reflexo do jornalismo noticioso. Porque por razões intrínsecas à própria atividade, o jornalismo concentra-se no aqui-agora, quando a empresa precisa levar seus colaboradores a refletir sobre as conseqüências de suas ações e decisões além do alcance da vista e do tempo. Uma matéria jornalística fundamenta-se no lead: o que, quem, como, quando, onde, por que. Aliás, o próprio conceito de notícia remete a algo subtraído de seu contexto: notícia é a exceção, nunca o business as usual. Portanto, levar os mesmos paradigmas para a comunicação interna apenas dificulta a jornada que todos nós precisamos fazer em direção ao pensamento sistêmico.

Outra frente estratégica de atuação das áreas de Comunicação das empresas é o engajamento de stakeholders. Algumas instituições já perceberam que não detêm todo o conhecimento que precisam para enfrentar os desafios da sustentabilidade e já começam a transformar o engajamento em um processo coletivo de criação de valor. Mas há que se ter o cuidado de não tentar criar relações utilitárias pois o tiro pode sair pela culatra, gerando desconfiança e afastamento, ao invés de vínculo.

Tanto na comunicação interna, como no engajamento, faz-se necessário ouvir o outro e levar em consideração o que ele nos diz. É preciso ainda tolerância com o erro, que certamente ocorrerá, pois o objetivo da comunicação para a sustentabilidade é justamente criar um conhecimento inexistente hoje. E, acima de tudo, um comprometimento das lideranças que assegure a coerência entre o que é dito e o que é feito.